Eu só sei que sinto. Que lembro. Que dói. Que não sei como
reagir.
E não falo só do Gabriel. Eu sinto falta da perspectiva de
vida que tinha há um mês. Sinto falta de dormir e acordar descansada, levantar
preguiçosamente e me arrastar despreocupada pelos caminhos da vida. Olhar pro
futuro e zombar dele. Rir das preocupações costumeiras sobre o amanhã.
Como posso eu rir de algo que pode ser tão cruel?
Como posso eu rir de dias que não me propõem a felicidade
que eu tanto almejei?
Eu sei que tantos outros antes de mim praguejaram a vida e
cantaram e contaram suas infinitas injustiças e desfeitos. Mas nenhuma dor
alheia anula o sofrimento de meu pobre peito. Nenhum coração arrasado me faz
mais inteira. Minha dor é minha. É única. Completa. Feroz.
Não cantá-la, festeja-la, cultuá-la é negar parte do que sou
a mim mesa. Diga-me como serei completa se escondo dos meus olhos a minha
metade? Como ser plena, eficiente e capaz se deixo sob a superfície o que
deveria ser parte de meus adornos?
O tempo me passou despercebida e agora já não há mais tempo.
já não há mais folha. já não há mais forças na mão. já não há mais saídas para
meu pobre e atormentado ser. já não há mais perdão. já não há mais pai. já não
há mais vontade de continuar nestas palavras. ou nesta existência.
Perdão, mãe eu nunca quis ser este desgosto todo.
Eu só nunca fui capaz de ser todo o seu orgulho!
carta que fiz pra eu mesma.
datada de 11/10/2018 - 17h40min